Pouco depois da estreia de Madalena, começou um mês e meio de confinamento. Madalena era um espetáculo sobre a complexa figura simbólica de Maria Madalena, a cuidadora. É ela quem prepara o corpo de Cristo para as cerimónias fúnebres e também é a ela que é dado a conhecer o milagre da transcendência da carne. Nesse espetáculo, as atrizes atravessavam uma longa noite de luto — um processo que passa pela negação, raiva, negociação, tristeza e aceitação — para resgatar o direito ao contacto com o corpo morto numa sociedade em que a morte foi higienizada, desmaterializada, tornada abjeta.
Madalena é hoje um outro espetáculo. Não se sabe bem o que é. Hoje, não só está interdito o contacto com o corpo morto, mas também o contacto com os vivos está condicionado. As inquietações agigantam-se depois de convivermos com um vírus que nos isolou fisicamente, que nos fez temer o outro, que fez com que funerais fossem proibidos, que deixou tantos morrerem sós. Madalena continua a lembrar-nos que, sem contacto, somos menos humanos.
Madalena é hoje um outro espetáculo. Não se sabe bem o que é. Hoje, não só está interdito o contacto com o corpo morto, mas também o contacto com os vivos está condicionado. As inquietações agigantam-se depois de convivermos com um vírus que nos isolou fisicamente, que nos fez temer o outro, que fez com que funerais fossem proibidos, que deixou tantos morrerem sós. Madalena continua a lembrar-nos que, sem contacto, somos menos humanos.